Ex-presidente Jango foi envenenado pela Operação Condor, revela ex-agente secreto uruguaio
O ex-presidente brasileiro João Goulart
(1961-1964) morreu, segundo a versão oficial, de um ataque cardíaco em 6 de
dezembro de 1976 no município de Corrientes, na Argentina. No entanto, as
suspeitas de que Jango, como era popularmente conhecido, tivesse sido morto por
agentes da Operação Condor sempre foram levantadas por amigos, familiares e
especialistas. Em recente entrevista à EBC (Empresa Brasil de
Comunicação), o ex-agente do serviço secreto uruguaio Mario Neira Barreto
forneceu detalhes da operação que teria resultado na morte de Goulart. Segundo
sua versão, o ex-presidente brasileiro deposto pelo regime militar teria sido
morto por envenenamento. Segundo Neira, Jango era considerado uma ameaça pelos
militares brasileiros, já que organizava planos para a democratização
brasileira. A Operação Condor foi uma aliança política entre os regimes
ditatoriais da América do Sul durante os anos 1960 para reprimir
opositores e eliminar seus líderes. Segundo a EBC, mesmo destituído, Jango era
monitorado por agentes no Uruguai, onde se encontrava exilado. A família
de Goulart nunca autorizou uma autópsia. Com base no depoimento de Neira, a
família de João Goulart pediu uma investigação ao MPF (Ministério Público
Federal). Mas o processo foi arquivado pela Justiça por ter prescrito.
Leia abaixo a entrevista de Neira, que está preso desde 2003 na Penintenciária
de Charqueada, no Rio Grande do Sul, por contrabando de armas:
“Passei três anos gravando coisas do Jango, pensando em roubar a fazenda dele,o
ouro que ele guardava. Mas então eu sou um ladrão fracassado. Por quê? Eu não
roubei nada dele, como ladrão ou bandido eu não me dei bem. Foi uma operação
muito prolongada que, no princípio, a gente não sabia que tinha como objetivo a
morte do presidente Goulart”. “Por que o Jango foi o perigo de toda essa
história e foi decidida sua morte? Porque o Jango era perigoso por aquele jogo
de cintura. Era um político que se aliava a qualquer um para conseguir o
objetivo de levar o Brasil novamente a uma democracia”. “Jango era o
pivô porque forneceria as passagens, iria aos Estados Unidos e voltaria com
toda aquela imprensa a Brasília, [passando] primeiro em Assunção, onde seria o
conclave, a reunião de todas as facções políticas do Brasil que se encontravam
dispersos e exilados, e ele faria possível essa reunião”. “Não era bom
para o Brasil...não era bom para os militares, para a ditadura. Daí que fpi
decidido que o Jango deveria morrer”. “Primeiro se pensou em um veneno.
Os remédios [que Goulart tomava por sofrer do coração] viriam da França, foram
recebidos na recepção do hotel Liberty. Foi uma araponga que foi colocada nesse
hotel, porque os remédios ficavam numa caixa forte verde. Então o empregado
(infiltrado) começou a trabalhar e forneceu um lote com várias caixas de
comprimido, ele não comprava uma, comprava um lote. Em cada caixa foi colocado
um, apenas um comprimido com um composto. Não era um veneno, mas causaria uma
parada cardíaca. Eu acho que o veneno coincidentemente, ele tomou aquela noite.
Tanto o relato de Dona Maria Teresa (Fontela Goulart, viúva) quanto do capataz
da fazenda é que os sintomas que eles relatam encaixam o que acontece. A
pressão sobe, baixa constrição dos capilares, ele tem uma morte rápida., tomou
o comprimido e já começou a se debater e, em dois minutos, morreu”.